sábado, julho 30, 2005

O homem no seu quadrado

O texto elaborado pelo poeta de Águeda, consciência mitica e critica da esquerda portuguesa, Manuel Alegre e publicado hoje no institucional Expresso - é bem desconcertante e curioso.

O poeta escrevinhou uma quase metáfora do poder e da política, mas esquecendo Maquiavel e Sun Tze, o da Arte da Guerra.

O homem, Manuel Alegre, anda na política vai para mais de 50 anos (creio eu...) e ainda não percebeu que "fidelidade", "amizade" são conceitos que a "política" como exercicio do poder ou da luta por ele - não têm a minima virtude!

Espanta-se o poeta da sua solitude, de não saber em que guerra está, quem são as suas tropas e contra quem luta (interroga-se mesmo se participa nalguma luta...).

Não passaram assim tantos meses em que Manuel Alegre se envolveu numa brava luta pelo lugar de Scretário Geral do Partido Socialista. Teve como adversários: José Sócrates e...João Soares (o primeiro proto candidato a disponibilizar-se para ser alternativa ao então Secretário Geral Ferro Rodrigues)!

Este João Soares (todos o saberão - é filho do Dr. Mário Soares) pediu-lhe então que abandonasse a sua candidatura e se juntasse a ele para assim poderem "derrotar" José Sócrates! O que respondeu Alegre: " estou melhor colocado que tu para o efeito. Desiste tu!"

O que está a acontecer agora? Alegre queria ser o candidato a Presidente da República com o apoio do P.S.

Mário Soares acha que está bem melhor colocado que o poeta para bater o ainda "não candidato" Anibal Cavaco Silva e, provavelmente, vai avançar como candidato apoiado já pelo Partido Socialista.

De que se queixa agora, amargamente, o vate?
Que está sozinho, plantado no seu quadrado.
É uma bela frase poética, mas duma inutilidade política confrangedora!

O Engº Guterres, se por aqui andasse, diria com aquele seu ar competente:"É da vida!"

J. Albergaria

A citação do dia

"Propriamente, só aprendemos algo de livros que não podemos julgar. O autor de um livro que púdessemos julgar deveria aprender connosco."

Coethe

quarta-feira, julho 27, 2005

Amarguemos!

A pouco se reduz esta aventura:
rio sombrio de palavras feito,
onde cada gargante é um parapeito
sobre o líquido engano que murmura...


De pedra,de silêncio e hostilidade,
somos estátuas verdes mas esquivas.
Odiar?Amar? - Apenas tentativas
falhadas nas esquinas da saudade.


E já nenhuma esp´rança nos consegue
manter o morto corpo desatento:
somente partilhamos o tormento
a que vai cada um de nós entregue.


Que no entanto o rio nos iluda,
com sua eterna melopeia aguda.





Fez o Grande David Mourão-Ferreira,sob o título "Soneto Amargo de Convívio Humano",e dedicando a Teixeira de Pascoaes (A quem mais?...)
E recordou e transcreveu o JGEsteves, em preito à tertúlia de hoje.

segunda-feira, julho 25, 2005

Citação do dia

"Um homem não se livra daquilo que lhe pertence, mesmo quando o lança fora."

J.W.Goethe
Máximas e Reflexões

(J.Albergaria)

O regresso do "velho" senhor à política activa

Mario Soares é uma espécie de caixa chinesa: quando se abre não mais para de nos surpreender.

Com a saída de António Guterres para as Nações Unidas, a esquerda ficou sem o seu candidato "natural" à Presidência da República. Todas as outras hipóteses aventadas (Ferro Rodrigues, António Vitorino, Manuel Alegre e, mesmo até, Freitas do Amaral...) por esta, ou aqueloutra razão, foram sendo diminuídas, apoucadas, ou até postas fora do baralho!

Eis que, tal D. Quixote, sempre pronto para uma boa bravata, sempre disponível para lutar pela honra de sua dama, montado no seu "rocinante", o "velho" senhor vai arremeter contra "os moinhos de vento" personificado ainda pelo "não candidato" do centro-direita, Anibal Cavaco Silva.

Soares sempre se pelou por uma boa briga.

A direita está a subestimá-lo e a diminui-lo, através da idade.

Goste-se, ou não, do personagem - há que reconhecer que não lhe falta coragem, onde a outros sobra vaidade, egoísmo e até mesquinhez aritmética, mais preocupados com carreiras, negócios e dinheiro...muito dinheiro!

Saudemos pois esta disponibilidade do "velho" senhor para uma boa briga, em torno dum lugar que, tudo o indica, não é tão desprovido de interesse, poder e virtudes como, noutras estações, alguns comentadores o quizeram demonstrar.

O usso recente que o actual inquilino do Palácio de Belém dele fez - está ai para o atestar.

O argumento de que é preciso saber d'economia e finanças para ocupar tal cargo - caí por terra, porque o Dr. Mário Soares já foi Presiodente da República durante dez anos e desempenhou-se muitissimo bem dessa nobre missão e nesse importantissimo cargo!

Vamos esperar pelas cenas dos próximos capitulos.

Mas lá que a direita ficou aturdida com a entrada na corrida do "velho" senhor... lá isso ficou!

J. Albergaria

quinta-feira, julho 21, 2005

[Abadessa oí dizer]

Abadessa, oí dizer
que érades mui sabedor
de todo bem, e, por amor
de Deus, querede-vos doer
de mim, que ogano casei,
que bem vos juro que nom sei
mais que um asno de foder.

Ca me fazem em sabedor
de vós que avedes bom sem
de foder e de todo bem,
ensinade-me mais, senhor,
como foda, ca o nom sei,
nem padre nem madre nom ei
que m’ensin’, e fiquei pastor.

E se eu ensinado vou
de vós, senhor, deste mester
de foder e foder souber
per vós, que me Deus aparou,
cada que per foder, direi
Pater Noster e enmentarei
a alma de quem m’ensinou.

E per i podedes gaar,
mia senhor, o reino de Deus:
per ensinar os pobres seus
mais ca por outro jaj~uar,
e per ensinar que a vós veer,
senhor, que nom souber ambrar.


Afonso Eanes do Cotom
[Meados do Séc. XIII]

a.m.

provérbio

«A fome de três semanas, pão de quinze dias.»

digo eu, a.m.

DE BESTA A BESTIAL

Ontem, 20 de Julho de 2005, enquanto jantávamos fomos confrontados pelo pedido de demissão do Ministro das Finanças, Luís Campos e Cunha e pela consequente nomeação de Teixeira dos Santos para o respectivo cargo.

Depois de tornada pública a substituição no Ministério das Finanças, e num ápice, toda a oposição ao Governo de José Sócrates, comenta o facto político da noite.

E, por incrível que pareça, toda a oposição é unânime em afirmar que a saída de Luís Campos e Cunha “ é um Profundo abalo na credibilidade do Governo” e “ um péssimo sinal para os agentes económicos nacionais e internacionais” e que, o agora, ex-ministro das Finanças, era um excelente ministro e que as suas políticas financeiras serviam os interesses do país…

Estou equivocado ou foi esta mesma oposição que acusou ferozmente a política financeira levada a cabo pelo ministério das finanças, que acusou o ex-ministro de não ter moral para pedir sacrifícios aos Portugueses quando acumulava vários rendimentos, que o acusou de estar a brincar com os Portugueses – em suma não lhe deram um dia de descanso desde o dia da tomada de posse. Enfim, as habituais diferenças de discurso conforme vão servindo os interesses de uma demagógica, sem credibilidade e irresponsável oposição.

O meu comentário sobre a saída de Luís Campos e Cunha do Governo:

Sempre fui da opinião que a passagem de Luís Campos e Cunha pelo Ministério das Finanças seria breve mas premeditada, isto é, estava previsto desde o início que depois de analisada a real situação económica do país, da apresentação do orçamento rectificativo e agora, depois da Comissão Europeia conceder a Portugal a possibilidade de corrigir, sem consequências, o défice até 2008, Luís Campos e Cunha tinha concluído o seu trabalho no ministério das finanças, dava o seu lugar a outro e retornaria ao Banco de Portugal.

Importa ainda reter, que num dos seus últimos comentários ao programa de investimentos do governo, ele, em jeito de despedida, refere-se à importância do investimento para a economia do país mas, deixa como legado ao seu sucessor, a preocupação da análise rigorosa e criteriosa dos projectos de investimento público – assim o seu sucessor saiba dar continuidade ao trabalho desenvolvido – uma coisa é certa, o agora ministro das finanças tem a vida facilitada.

Luís Campos e Cunha cumpriu a sua missão!


Ricardo Faria

quarta-feira, julho 20, 2005

em verdade nos dizem

De um e-mail que recebi:

"Os políticos portugueses são os mais católicos do mundo.Não assinam nada sem levarem um terço.."



J.G.Esteves

segunda-feira, julho 18, 2005

A citação do dia

"Quando eu erro qualquer um o pode notar. Quando eu minto, não."

J.W.Goethe
Máximas e Refleexões
Guimarães Editores
2001

(J.Albergaria)

domingo, julho 17, 2005

Citação do dia

"Chegado é o tempo de partirmos. Eu para a morte, vós para a vida. Qual dos destinos é o melhor, a não ser o deus, ninguém o sabe."

Apologia de Sócrates
Platão

(J. Albergaria)

sexta-feira, julho 15, 2005

Em alvores autárquicos

"Os fins justificam os meios se os meios forem bons fins"

Alexandre O´Neill, em "As Horas Já De Números Vestidas"



Ocorreu ao João Grego Esteves ao ver na televisão o Marques Mendes e o Carmona (brrrr!...) a enterrarem vivo o Santana Lopes

quinta-feira, julho 14, 2005

POBRE MUNDO – PODRES GUERRAS

Passados 6 dias dos terríveis atentados de Londres, ainda as autoridades procuram os responsáveis pelos atentados e identificar os corpos que ainda permanecem no Metro Londrino…. E…

Um atentado suicida em Bagdad assassina dezenas de crianças Iraquianas, quando estas recolhiam chocolates dos Soldados Americanos.

Fui e sou contra a guerra e contra a ocupação do Iraque – Os motivos que serviram de base à ofensiva militar, como todos sabemos, eram falsos e não é desta forma que se derrubam as ditaduras – está provado!!!

Sou e serei, com muito gosto, um fiel critico à actuação dos Estados Unidos em todo este processo.

No entanto esta espécie de terrorismo que se vive diariamente no Iraque – o qual sacrifica em primeiro lugar os filhos da terra não tem qualquer compreensão lógica ou racional, ou então não se dirige em primeira instância às Forças Militares ocupantes, mas sim a uma guerra religiosa secular entre Sunitas e Xiitas, senão vejamos:

Apenas um exemplo - Neste atentado morrem 32 Iraquianos, não sua grande maioria crianças, de um bairro xiita, morre também um soldado Americano e outros três ficam feridos– Porquê?????

Ricardo Faria

terça-feira, julho 12, 2005

Em louvor do louvor

Tocado pelo "Em louvor do mestre",contribuo para a obra com modesta argamassa exterior sob a forma de uma citação do Mestre Fernando Pessoa:
"A morte é a curva da estrada.Morrer é só não ser visto"

João Grego Esteves

O Banqueiro Anarquista

"Eu não sei muita história, mas o que sei acerta com isto; nem podia deixar de acertar. O que saiu das agitações políticas de Roma? O império romano e o seu despotismo militar. O que saiu da Revolução Francesa? Napoleão e o seu despotismo militar. E v. verá o que sai da Revolução Russa...Qualquer coisa que vai atrasar dezenas de anos a realização da sociedade livre...Também o que era de esperar de um povo de analfabetos e de místicos?..."

Fernando Pessoa
1922
O Banqueiro Anarquista
Assírio & Alvim
1999

(J.Albergaria)

Em louvor do Mestre

Em louvor de ti
Emidio Guerreiro,
Professor daquela disciplina
Que misturava
Matemática e liberdade,
Homem de rija cepa,
Cidadão impoluto,
Longevo animal,
Irmão fraterno,
Dir-te-ei só,
Porque cantar não sei,

-Foste tão cedo, porquê?

Agora já não moras em Paris
Nem polemizas pelas ruas da Sorbonne
No Maio de sessenta e oito

Nem trilhas os caminhos de Santiago
Nem carregas fuzil e cantil
Pelas veredas da guerra d'Espanha

Nem pisas as urzes do maquis
Nem poisas a dinamite
Na sabotagem dos trilhos nazis

Nem comandas as hostes social-democratas
Nas calendas d'Abril a declinar
Barrando o caminho a nova ditadura

Nem dissertas sobre a conjectura de Fermat
Nem dizes os cantos dos Lusíadas
Nem te aprazes na amesendação da amizade

Nem pedes ao povo do Porto,
Enchente de merda as mãos,
Para no Carmona traidor a postarem!

Num dia, parecido com outro qualquer
Partiste, sem te fazer anunciar

Ela, dona Morte, não t'apanhou desprevenido
Deixaste todas as disposições escritas.

As flores que t'acompanhariam,
Os amigos e parentes a honrar,
As tuas convicções de sempre
Até o banquete d'amizade no sétimo dia!

Tudo estava justo e perfeito,
Como foi teu desejo!

Príncipe que foste,
No Palácio estadiaste!

Soldado de mérito
Em terras de França,
Não t'esqueceste d'honrar
Os nossos capitães abrilistas!

Hoje, quando t'apresentaste
De rigor paramentado
Naquele lugar solar
Onde nunca perece a luz
O venerável guarda anunciou-te:
-A palavra sagrada?
Tu, humilde guerreiro, garboso, respondeste:
-Liberdade!

Agora, agorinha, pareceu-me ouvir-te clamar,
Sonoroso e determinado
Com aquela tua voz drapejada
de sons galaico-durienses:
-"Que os trabalhos retomem força e vigor."

Nós, patrícios de nobre e augusta ordem,
Humildes canteiros
Pedreiros incipientes
Construtores impenitentes
D'utopias planetárias
Seguimos-te tranquilos e apaziguados

Nós, os que não partiram
Cinzeladores da pedra bruta
Reconstrutores do templo
Em demanda do santo graal
Da palavra interrompida,
Respondemos-te, luminosos e humildes,
Com aquele som mágico
Da perfeita trilogia:

Liberdade! Igualdade! Fraternidade!

José Albergaria








Citação do dia

"Com a mesma medida com que medirdes, sereis medido."

S. Mateus
VII, 2.

(J.Albergaria)

segunda-feira, julho 11, 2005

reincidência

Retornado de faliz buraco onde não chega a Net,e antecipando o prazer do convívio com os amigos,concretizo a recincidência que ameaçara perpetar.
Faço-o,evocando um poema de Jacques Prévert,sempre e cada vez mais actual (o poema e o Prévert)


PATER NOSTER



Notre Père qui êtes aux cieux
Restez-y
Et nous nous resterons sur la terre
Qui est quelquefois si jolie
Avec ses mystères de New York
Et puis ses mystères de Paris
Qui valent bien celui de la Trinité
Avec son petit canal de l´Ourcq
Sa grande muraille de Chine
Sa rivière de Morlaix
Ses bêtises de Cambrai
Avec son océan Pacifique
Et ses deux bassins aux Tuileries
Avec ses bons enfants et ses mauvais sujets
Avec toutes les merveilles du monde
Qui sont lá
Simplement sur la terre
Offertes à tout le monde
Éparpillés
Émerveillées elles-mêmes d´être de telles merveilles
Et qui nósent se l´avouer
Comme une jolie fille nue qui n´ose se montrer
Avec les épouvantables malheurs du monde
Qui sont légion
Avec leurs légionnaires
Avec leurs tortionnaires
Avec les maitres de ce monde
Les maitres avec leurs prêtres leurs traîtres et leurs
reitres
Avec les saisons
Avec les années
Avec les jolies filles et avec les vieux cons
Avec la paille de la misère pourrissant dans l´acier des
canons.




J G Esteves

A citação do dia

"Todo o reino dividido contra si mesmo está perdido."

S.Lucas , XI, 17.

(J. Albergaria)

Os atentados de Londres

Pode haver uma leitura numerológica dos atentados reinvidicados pela Al Qaeda?

Talvez possa.

Os aviões embateram nas torres gémeas de NY no dia 9 do mês 11, numeros que somados se transformam em 20.

Os atentados de Madrid ocorreram no dia 11 do mês 3, numeros que adicionados resultam em 14.

Os atentados de Londres ocorreram no dia 7 do mês 7, numeros que juntos redundam em 14.

Qual será a próxima sequência? 14 ou 20?

Esta é uma abordagem possível.

E porquê?...pela irracionalidade e barbárie dos próprios atentados. A escolha pode ser por sequência numerológica ou noutra sequência qualquer!...

Houve tempos em que, na Europa civilizada ocorreram chacinas vindas do interior do próprio Estado: veja o exemplo da Alemanha Nazi, da Italia fascista, da Grécia dos Coronéis, nomeadamente!

Houve tempos em que violentos atentados tinham origem em grupos de niilistas intelectuais e/ou anarquistas de várias origens. Nos finais do século XIX e primórdios do XX aconteceram vários fenómenos destes: na França, na Itália, na Russia czarista, em Portugal. Matavam-se reis, príncipes consortes (e com azar...), Presidentes de República e até Primeiros-ministros.

Em passado recente, os malefícios das Brigadas Vermelhas (Itália) e do Grupo de Bader Meinhof (Alemanha Federal), só para citar estes, colocaram a fragilidade desses Estados na ordem do dia.

Hoje, este fenómeno tem outros matizes e coloca-nos perante um inevitabilidade: os fundamentalistas do Islão (ou que dele se reinvidicam...) querem trazer a "guerra santa" para o interior das potências infiéis.

Que representa isto? Que voltamos à barbárie? Talvez.

O que ocorreu recentemente nos balcãs, entre croatas e sérvios, e jugoslavos, e montenegrinos e o que está a acontecer na Chechénea, é fenómeno de que ordem? Da barbárie, certamente!O que está a acontecer no Zimbabwé, como se pode classificar? De barbárie.

Mas o que está a ocorrer com os fundamentalistas islâmicos é de outra ordem. Querem confrontar a nossa civilização com aquela que está vertida no Corão e que é profundamente redutora. Querem, em bom rigor, regredir 1 000 anos! Isto é possível? Os fanáticos, os loucos lederes da Al Qaeda acreditam piamente que tal seja possível.

E como se comporta o dito Ocidente e a potência, a única, mundial, os EUA? Mal, muito mal mesmo. E sobretudo de um modo sobranceiro, unilateral e pouco inteligente. Parece que a actual liderança dos EUA se preocupa exclusivamente com o grupo de famílias que controla o Estado, as Forças Armadas e os grandes negócios (energia, aeroespacial, transportes, informática,etc).

Contra a barbárie - só a inteligência, a cultura, a ética e a competência militar defensiva pode funcionar como a muralha de Adriano, ao tempo do império romano ou da linha Maginot, ao tempo da primeira guerra mundial.

O que se está a tentar fazer, a partir das Nações Unidas e do G8, no que respeita à erradicação da fome em África, ao perdão das dívidas aos países pobres, às mudanças climáticas e às energias alternativas ao petróleo e ao gaz natural, podem indiciar que as potências mundiais estão a arregalar os olhos. Talvez.

O mundo parece que está totalmente desregulado.

É fenómeno circunstancial? Claro que não.

A história da "humanidade" está cravejada de guerras, de lutas pelo controlo do comércio, das riquezas naturais, dos territórios, dos recursos humanos e, até, de guerras pelo controlo das almas e das mentes: com a imposição de crenças, de religiões e até de comportamentos!

Como afirmava Erasmo de Roterdão: " A guerra é doce para quem não a experimentou".

Observe-se o que está a decorrer na actualidade no Iraque. A liderança dos EUA decidiu ocupar este país soberano, o mais laico dos países do Islão, para derrubar um bárbaro ditador.

Conseguiu tal desiderato, mas nesta altura, um ano depois de ter entregue formalmente o poder aos iraquianos - não conseguem retirar as suas tropas do território iraqui.

Solução? Encontrar os caminhos da Paz, da tolerância e preserverar num espirito verdadeiramente eucoménico - ao qual TODAS as lideranças (políticas, religiosas, económicas, culturais e sociais...) se devem unir e convergir, para derrotar todo o tipo de fundamentalismo genocida, que quer destruir o OUTRO para depois encontrar os inimigos dentro da sua própria fortaleza.

José Albergaria

sábado, julho 09, 2005

Citação do dia

O príncipe deve comandar em pessoa, e desempenhar ele o papel de capitão; a república deve escolher, para tanto, qualquer dos seus cidadãos; e quando escolher um que não se mostre homem valoroso deve substituí-lo; e, quando o seja, deve limitá-lo com as leis, de modo que não passe das fronteiras em que se deve manter.

"O Príncipe"
Maquiavel

(J.Albergaria)

sexta-feira, julho 08, 2005

Agora o provérbio

Antes uma santa ignorância do que uma falsa ciência.


a.m.

Outra citação do dia

Onde há luta há sacrifícios e a morte é coisa frequente.

Mao Zehdong

a.m.

Citação do dia

A virtude do ânimo é a única nobreza.

Juvenal

(J. Albergaria)

quinta-feira, julho 07, 2005

Provérbio do dia

Ao avarento, tanto falta o que tem como o que não tem.

a.m.

A citação do dia

Tens inteira liberdade para te absteres dos sofrimentos do mundo, isso corresponde à tua natureza; mas talvez o facto de te absteres seja o único sofrimento que possas evitar.


Kafka
Antologia de Páginas Íntimas

(J.Albergaria)

quarta-feira, julho 06, 2005

Provérbio do dia

Antes corda dá cá o burro, do que burro dá cá a corda.


a.m.

A citação do dia

...M'ESPANTO ÀS VEZES, OUTRAS M'AVERGONHO...
Sá de Miranda

(J. Albergaria)

terça-feira, julho 05, 2005

Fala do amigo

Já ali não estavas. Quando te perdi já
nunca tinhas existido; nem eu nem a rocha
na pequena praia onde estivéramos. Depois
foram todos os nomes do corpo:eu tentava
mas não conseguia reuni-los. Ficariam
como os pedaços daquele vaso que não se pode
reconstituir todo porque é menor que as suas
partes. E depois foram desaparecendo, levando-me
o próprio nome e a fala do mundo.
já não existiam nem eu existia já.
Já nunca tínhamos existido agora.
"Teatros do Tempo"
Manuel Gusmão

(J.Albergaria)

Citação do dia

Não é novidade dizer que, já não havendo bárbaros que ameacem as fronteiras do Império Universal, a mais sangrenta e deletéria das invasões poderá advir-nos dos bárbaros em que se converteram muitos cidadãos supercivilizados deste Império.

Mitologias
Eudoro de Souza

(J.Albergaria)

segunda-feira, julho 04, 2005

Elogio Funebre ao Professor Emidio Guerreiro

Palavras proferidas na última despedida a Emídio Guerreiro

Ao evocar o Professor Emídio Guerreiro todos concordam em reconhecer o carácter incansável da sua luta pela Liberdade, luta enfim coroada de êxito em certa madrugada de 25 de Abril, após o que foi sobretudo um longo rosário de derrotas, em Portugal, em Espanha e em França.

Mas donde vem e aonde leva esse fervor de Liberdade?

A Liberdade é um imperativo da Razão.


A atitude racional, pedra de toque da ciência moderna e da própria ideia democrática, exige um clima de liberdade, permitindo o questionamento sistemático de todas as supostas verdades, pois ninguém pode nunca ter a certeza de estar certo.

O pensamento livre porém só à Razão é submisso.

Esta aparente contradição conhecia-a bem o Professor Emídio Guerreiro, pois como matemático que era, sabia que apesar da sujeição voluntária a regras implacavelmente rígidas é a Liberdade a essência da matemática.

Mas a Liberdade é também uma condição imperativa do exercício da Vontade.


E por ser um homem livre – apesar das agruras do exílio e da prisão – pôde ser o Professor Emídio Guerreiro um homem de acção. Agiu, pensando sempre, antes; pensou, agindo sempre, depois.

Da trilogia que tanto prezava – Liberdade, Igualdade, Fraternidade – parecia-lhe ser o terceiro termo, inspirador da acção a empreender no século XXI para combater a alienação humana.Sem conformismos e sem resignação.

O Professor Emídio Guerreiro deixa reforçada a esperança dos que, sendo irmãos nos mesmos ideais, lutam pela Razão e a Vontade, fiéis aos versos de Paul Éluard, que ele tanto encarecia:

''Pelo poder de uma palavra
Recomeço a minha vida
Nasci para te conhecer
Para dizer o teu nome

Liberdade''

Paulo Almeida
(matemático)
Lisboa 2005 Julho o1
Cemitério do Alto de S. João

(J.Albergaria)


A citação do dia

"A guerra é doce para quem não a experimentou."

Erasmo de Roterdão

"A Guerra e Queixa da Paz"


(J.Albergaria)

Rosalia de Castro: roubada ao J.Pacheco Pereira

Cantan os galos pra o día
érguete, meu ben, e vaite.
- ¿Cómo me hei de ir,
cómo me hei de ir e deixarte?


- Deses teus olliños negros
como doas relumbrantes,
hastra as nosas maus unidas
as bágoas ardentes caen.
¿Cómo me hei de ir
si ca lengua me desbotas
e co corasón me atraes?
Nun corruncho do teu leito
cariñosa me abrigaches;
co teu manso caloriño
os fríos pes me quentastes;
e de aquí xuntos miramos
por antre o verde ramaxe
cál iba correndo a lúa
por enriba dos pinares.
¿Cómo queres que te deixe?
¿Cómo, que de ti me aparte
si máis que a mel eres
e máis que as froles soave?


- Meiguiño, meiguiño, meigo,
meigo que me namoraste,
vaite de onda min, meiguiño,
antes que o sol se levante.


- Ainda dorme, queridiña,
antre as ondiñas do mare;
dorme porque me acariñes
e porque amante me chames,
que sólo onda ti, meniña,
podo contento folgare.


- Xa cantan os paxariños.
Érguete, meu ben, que é tarde.


- Deixa que canten, Marica;
Marica, deixa que canten...
Si ti sintes que me vaia,
eu relouco por quedarme.


- Conmigo, meu queridiño,
mitá da noite pasaches.


- Mais en tanto ti dormías,
contentéime con mirarte,
que así, sorrindo entre soños
coidaba que eras un ánxel,
e non con tanta purea
e non con tanta pureza
ó pe dun ánxel velase.


- Así te quero, meu ben,
como un santo dos altares;
mais fuxe..., que o sol dourado
por riba dos montes saie.


- Iréi; mais dame un biquiño
antes que de ti me aparte,
que eses labiños de rosa
inda non sei cómo saben.


- Con mil amores cho dera;
mais teño que cofesarme,
e moita vergonza fora
ter un pecado tan grande.


- Pois confésate, Marica,
que, cando casar nos casen,
non che han de valer, meniña,
nin confesores nin frades.
¡Adiós, cariña de rosa!


- ¡Raparigo, Dios te garde!

(Rosalia de Castro)

*Xa cantan os paxariños, bom dia!

(J.Albergaria)



domingo, julho 03, 2005

[Causas perdidas]

Causas perdidas
são as
que me dão vida.

Por isso te quero,
terra minha.

Por isso aterro
a minha casa.
Construo outra
igual, parecida.

Ruy Cinatti
[Londres, 1915-1986]

a.m.

Camóes dirige-se aos seus contemporâneos

Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de me saber melhor ainda
do que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado como meu,
até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
para passar por meu. E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.


Jorge de Sena
[Lisboa, 1919.1978]

a.m.

Provérbio do dia

Quando a madre-abadessa é careca as freiras são pouco encabeladas.

a.m.

sábado, julho 02, 2005

Seria o amor portugês

Variações sobre um fado


Muitas vezes te esperei, perdi a conta,
figas manhãs te esperei tremendo
no patamar dos olhos. Que importa
que batam à porta, façam chegar
jornais, ou cartas, de amizade um pouco
─ tanto pó sobre os móveis tua ausência.

Se não és tu, que me pode importar?
Alguém bate, insiste através da madeira,
que me importa que batam à porta,
a solidão é uma espinha
insidiosamente alojada na garganta.
Um pássaro morto no jardim com neve.

Nada me importa; mas tu enfim me importas.
Importa, por exemplo, no sedoso
cabelo poisar estes lábios aflitos.
Por exemplo: destruir o silêncio.
Abrir certas eclusas, chover em certos campos.
Importa saber da importância
que há na simplicidade final do amor.
Comunicar esse amor. Fertilizá-lo.
«Que me importa que batam à porta… »
Sair de trás da própria porta, buscar
no amor a reconciliação com o mundo.
Longas manhãs te esperei, perdi a conta.
Ainda bem que esperei longas manhãs
e lhes perdi a conta, pois é como se
no dia em que eu abrir a porta
do teu amor tudo seja novo,
um homem uma mulher juntos pelas Formosas
inexplicáveis circunstâncias da vida.

Que me importa, agora que me importas,
que batam, se não és tu, à porta?



Fernando Assis Pacheco
[Coimbra, 1937-1995]

a.m.

Provérbio do dia

Ninguém quer ser velho, nem morrer novo.


a.m.

O passamento d'um GUERREIRO

Emidio Guerreiro iniciou, dia 30 de Junho de 2005, a sua ultima viagem solar rumo, ao que os maçons, simbolicamente, designam por Oriente Eterno, ou o lugar onde a Luz nunca perece.

Pelo seu notável percurso de lutador ("guerreiro"), começado muito cedo na Academia de Coimbra, prosseguida no Porto, já "maçon" (onde chegou pela mão do portuense Carlos Cal Brandão), participa activamente com o seu pai na revolta do Porto em 1927 contra a ditadura militar de Gomes da Costa - que viria a preparar a emergência do estado Novo - criação do homem de Santa Comba Dão, António de Oliveira Salazar. Nesta revolta tiveram papel de mor relevo, outros dois maçons, vultos impressivos da nossa história: o General Sousa Dias (bisavô da jornalista da RTP Ana Sousa Dias) e Jaime Cortesão - um dos maiores vultos civicos e intelectuais do século XX.

Emidio Guerreiro é, reconhecidamente, o "ultimo revolucionário romântico" - que atravessou três séculos e dois milénios, foi testemunha de duas guerras mundiais, de várias revoluções e da queda do regime dos coronéis na Grécia, de Pinochet no Chile e do fascismo em Portugal, sua Pátria amada e da passagem para a democracia em Espanha, depois de Franco! Assistiu à libertação de povos oprimidos em todos os Continentes: India, Vietnam, Argélia, Médio Oriente, Congo, Angola, Moçambique, Guiné, etc,, etc.

Lutou em terras lusas, militou na causa da República Espanhola, para onde fugiu depois de ter sido preso no rescaldo da revolta do Porto de 1927 e lutou no "maquis" em França contra o invasor nazi! Depois da libertação da França e do fim da segunda guerra mundial, empedernido
democrata e lutador pela liberdade, envolveu-se na militância antifascista portuguesa - a partir de França onde vivia e lecionava matemática - a sua paixão de sempre! Dizia ele que tinha assistido a coisas fantásticas durante a sua longa vida, mas tinha também vivido a resolução "da conjectura de Fermant"!

Rejubilou, com 75 anos, com o 25 de Abril de 1974.

Ajudou a fundar o PPD e, quando o Dr. Sá Carneiro se ausentou para Londres, em pleno Verão quente de 1975 (a pretexto duma doença nunca enunciada...) assumiu a liderança daquele Partido e enfrentou, com inaudita coragem, a deriva esquerdista que se tinha "apossado" aparentemente do País.

Os seus discursos parlamentares desta época atestam-no sem margens para dúvidas! As suas acções e os compromissos que assumiu com outros democratas (veja-se os seus amigos fiéis Edmundo Pedro e Fernando do Amaral...) e com a ala moderada e civilista do MFA (Vasco Lourenço, Vitor Alves, Costa Brás, Pezarat Correia, nomeadamente), confirmam-no de modo inquestionável!

A sua dedicação à Maçonaria, durante 77 anos, levou o Grande Oriente Lusitano, pela voz do seu Grão Mestre, António Arnaut - a outorgar-lhe a mais importante comenda maçónica: "O Grande Colar Maçónico -Ouro atribuido a quem "na maçonaria tenham cumprido 50 anos de vida activa, devotada e impoluta".

A 30 de Junho de 2005 morreu Emidio Guerreiro, homem duma enorme probidade que nunca sofreu questionamento sério.

Por sua vontade expressa, o corpo veio de Guimarães para o Palácio da Maçonaria Portuguesa, na Rua do Grémio Lusitano.

Quiz que as cerimónias funebres não tivessem qualquer tipo de ostentação, não tivessem qualquer carácter religioso, pediu flores singelas, onde predominassem os cravos vermelhos e os brancos. Pediu para que qualquer simbolo, de qualquer religião, fosse banido das cerimóniais oficiais. Aceitava-as se alguém as usasse a titulo estritamente pessoal!

Pediu ainda que parassem o esquife na Sede da Associação 25 de Abril (da qual era sócio emérito) - para que ele pudesse honrar a gesta dos Capitães de Abril!

Antes de partir, assumiu várias decisões e disposições e, entre elas, uma que podem ser assumida como legenda de uma vida longa, digna e de uma riqueza ímpares.

Pagou num restaurante de Guimarães (a ementa foi escolhida por ele) um almoço para os amigos mais intimos, para ser realizado no sétimo dia do seu passamento. Exigiu tão somente que os amigos se reunissem em alegria, em franco e rico convivio e o recordassem - como se estivera entre eles!

Emidio Guerreiro, por muito ter vivido, era um optimista!

Apologista impenitente da trilogia da revolução francesa, e da maçonaria, Liberdade, Igualdade e Fraternidade, gostava de afirmar:

o século XIX foi o tempo da Igualdade;
o século XX foi o da Liberdade;
o século XXI há-de ser o século da Fraternidade!

Assim possa ser!

Que o exemplo deste cidadão, que gostava de dizer, citando Goethe, que todo o homem tem duas pátrias, " A sua e a da França!", possa florescer, dar frutos e ser estudado nos manuais da história - pelo muito que se lhe deve e pelo pouco que em vida lhe retribuímos!

Termino, recordando-me do poema que ele mais amava, "Ma Liberté" de Paul Eluard, dizendo-lhe, nem adeus, nem até amanhã, nem até sempre, simplesmente: LIBERDADE!


José Albergaria

sexta-feira, julho 01, 2005

Provérbio do dia

Quem vê o céu na água, vê peixes nas árvores.


a.m.

Sem título

Trago o país
No bolso do casaco

Sem casaco
Sou um apátrida


Paulo Cid

pela mão de a.m.