segunda-feira, julho 04, 2005

Elogio Funebre ao Professor Emidio Guerreiro

Palavras proferidas na última despedida a Emídio Guerreiro

Ao evocar o Professor Emídio Guerreiro todos concordam em reconhecer o carácter incansável da sua luta pela Liberdade, luta enfim coroada de êxito em certa madrugada de 25 de Abril, após o que foi sobretudo um longo rosário de derrotas, em Portugal, em Espanha e em França.

Mas donde vem e aonde leva esse fervor de Liberdade?

A Liberdade é um imperativo da Razão.


A atitude racional, pedra de toque da ciência moderna e da própria ideia democrática, exige um clima de liberdade, permitindo o questionamento sistemático de todas as supostas verdades, pois ninguém pode nunca ter a certeza de estar certo.

O pensamento livre porém só à Razão é submisso.

Esta aparente contradição conhecia-a bem o Professor Emídio Guerreiro, pois como matemático que era, sabia que apesar da sujeição voluntária a regras implacavelmente rígidas é a Liberdade a essência da matemática.

Mas a Liberdade é também uma condição imperativa do exercício da Vontade.


E por ser um homem livre – apesar das agruras do exílio e da prisão – pôde ser o Professor Emídio Guerreiro um homem de acção. Agiu, pensando sempre, antes; pensou, agindo sempre, depois.

Da trilogia que tanto prezava – Liberdade, Igualdade, Fraternidade – parecia-lhe ser o terceiro termo, inspirador da acção a empreender no século XXI para combater a alienação humana.Sem conformismos e sem resignação.

O Professor Emídio Guerreiro deixa reforçada a esperança dos que, sendo irmãos nos mesmos ideais, lutam pela Razão e a Vontade, fiéis aos versos de Paul Éluard, que ele tanto encarecia:

''Pelo poder de uma palavra
Recomeço a minha vida
Nasci para te conhecer
Para dizer o teu nome

Liberdade''

Paulo Almeida
(matemático)
Lisboa 2005 Julho o1
Cemitério do Alto de S. João

(J.Albergaria)