Mapril
sexta-feira, março 24, 2006
Liberté (em memória de Emídio Guerreiro)
Liberté, de Paul Eluard, poema de referência de Emídio Guerreiro
Liberté
Sur mes cahiers d'écolier
Sur mon pupitre et les arbres
Sur le sable de neige
J'écris ton nom
Sur les pages lues
Sur toutes les pages blanches
Pierre sang papier ou cendre
J'écris ton nom
Sur les images dorées
Sur les armes des guerriers
Sur la couronne des rois
J'écris ton nom
Sur la jungle et le désert
Sur les nids sur les genêts
Sur l'écho de mon enfance
J'écris ton nom
Sur tous mes chiffons d'azur
Sur l'étang soleil moisi
Sur le lac lune vivante
J'écris ton nom
Sur les champs sur l'horizon
Sur les ailes des oiseaux
Et sur le moulin des ombres
J'écris ton nom
Sur chaque bouffées d'aurore
Sur la mer sur les bateaux
Sur la montagne démente
J'écris ton nom
Sur la mousse des nuages
Sur les sueurs de l'orages
Sur la pluie épaisse et fade
J'écris ton nom
Sur les formes scintillantes
Sur les cloches des couleurs
Sur la vérité physique
J'écris ton nom
Sur les sentiers éveillés
Sur les routes déployées
Sur les places qui débordent
J'écris ton nom
Sur la lampe qui s'allume
Sur la lampe qui s'éteint
Sur mes raisons réunies
J'écris ton nom
Sur le fruit coupé en deux
Du miroir et de ma chambre
Sur mon lit coquille vide
J'écris ton nom
Sur mon chien gourmand et tendre
Sur ses oreilles dressées
Sur sa patte maladroite
J'écris ton nom
Sur le tremplin de ma porte
Sur les objets familiers
Sur le flot du feu béni
J'écris ton nom
Sur toute chair accordée
Sur le front de mes amis
Sur chaque main qui se tend
J'écris ton nom
Sur la vitre des surprises
Sur les lèvres attendries
Bien au-dessus du silence
J'écris ton nom
Sur mes refuges détruits
Sur mes phares écroulés
Sur les murs de mon ennui
J'écris ton nom
Sur l'absence sans désir
Sur la solitude nue
Sur les marches de la mort
J'écris ton nom
Sur la santé revenue
Sur le risque disparu
Sur l'espoir sans souvenir
J'écris ton nom
Et par le pouvoir d'un mot
Je recommence ma vie
Je suis né pour te connaître
Pour te nommer
Paul Eluardin Poésies et vérités 1942Ed. de Minuit, 1942
posted by Alcino Pedrosa
Um grande poema dum enorme poeta...vivissimo!
Gato
Que fazes por aqui, ó gato?
Que ambiguidade vens explorar?
Senhor de ti, avanças, cauto,
meio agastado e sempre a disfarçar
o que afinal não tens e eu te empresto,
ó gato, pesadelo lento e lesto,
fofo no pêlo, frio no olhar!
De que obscura força és a morada?
Qual o crime de que foste testemunha?
Que deus te deu a repentina unha
que rubrica esta mão, aquela cara?
Gato, cúmplice de um medo
ainda sem palavras, sem enredos,
quem somos nós, teus donos ou teus servos?
(Alexandre O'Neill)
Publicado por Albergaria
terça-feira, março 21, 2006
Porque hoje é dia mundial da poesia...
Filho
P'la manhã
A madrugada, preguiçosa
A aurora por despontar
Ele, feliz, carregado de ternura:
-Feliz dia do Pai!
Sabemos, tu e eu
As efemérides foram inventadas
P'ro dinheiro deixarmos
Nas catedrais do consumo.
Aquilo que vale
O que deveras é de valorar
É este caudal
De ternura, feito amor
Em jorros incessantes
Deste filho tardio
Que, em cada dia, m'apazigua
Me reconcilia com a urbe et orbe!
Os homens, todos
Deveriam ter, sempre:
Olhos de criança;
Coração d'adolescente;
Ternura d'infantes!
Estou convicto
Se assim fora
A Humanidade
A humana condição
Seria bem melhor.
E cada de nós - também!
Eu, pai feliz e babado
Tranquilo
Por cada dia de vida
Celebro a ternura perene
Deste filho abençoado
Cúmplice, amigo e companheiro
---------------------definitivo!
Eu e ele
Frátria e estirpe de sangue
Consistente p'la delicadeza
No trato e no estar
No ser e no querer
Na amizade profunda
No respeito dele
No nosso indiscutivel AMOR.
Filho, eu te saúdo!
Quero-te feliz
Honrado e probo
Irmão do teu irmão
Fraterno com os próximos
Solidário pelos desvalidos
Presente onde morar
Miséria e injustiça.
Assim te vejo
Assim te quero
Assim faço para que sejas
Assim desejo que venhas a ser!
José Albergaria
segunda-feira, março 20, 2006
Ainda e mais um poemita
Vida
Que rotineira coisa
Vulgar caminhar
Pouco exaltante bracejar!
Pode-se viver sem olhar ALÉM?
Pois, assim se pode!
Pode-se viver sem pré-ocupações?
Claro - pode-se!
Quase todas, humanas criaturas
Por designio dos deuses
Por vontade dos manes
Assim caminhámos p'la vida.
A vida é,pois, um caminho?
Será.
O poeta disse:
-Caminheiro não há caminho.
O caminho faz-se a andar.
Pois.
Tal qual como na vida:
-Vivente, não há vida.
A vida vive-se - vivendo-a!
Aos homens pede-se:
sejam talentosos;
corajosos, aqui;
ali, irresponsáveis.
Por mor de viverem
Sem endoidarem.
Porquê?
Olhe-se a vida de frente.
Que vemos?
Guerras
Miséria
Pobreza
Fome
Estultícia
Pandemias
Loucura
Lucros indevidos
Grimes hediondos
Máfias velhas
novas
pretas ontem; agora, também vermelhas.
Valerá, então, a pena viver?
Claro que sim.
E por mor de quê?
Dos filhos amados
Da Humanidade
Da civilização
Contra as babáries
Do amor da verdade
Da beleza
Da ética
Da probidade
Da fraternidade - que é AMOR solidário
Contra o pessimismo - que convida à inação
Pelo optimismo - que exulta ao voluntarismo!
A vida semelha uma tela
Na qual preexiste
Mas onde o artista põe
O que bem lhe quer
Moldando-a
Recriando-a
Fazendo real imaginado.
A vida, humanas criaturas
É tão só
Coisa - para ser vivida
--------------------- intensamente!
Albergaria
quinta-feira, março 16, 2006
Em deriva "classicista"
Ilion
Nas brumas rumorosas
Enterrada, cidade sobreposta
A triste Ilion, a sexta
Despojada, reduzida a escórias
Aquiles, zangado
Direito seu, violado
Afastou-se da cruenta refrega.
Eneias, por seu fado
De Ilion afastado
Em planicie aquosa lavrando
Por vontade dos deuses
Na verdejante Itália tropeça!
Aquiles, o perfeito argivo
Feneceu alcançado p'lo dardo
Rustremente arremessado pelo troiano.
Páris/Alexandre, por loucura opinativa
Preferindo Afrodite a Palas Atenas
Ganhou os favores da bela lacedemónia
Ofendendo as leis da hospitalidade
Agressor do nobre lacónico.
Menelau, ultrajado
Apelou à simaquia pan-helénica
P'ra demandar Troia
Afrontar os troianos
Trazer de volta Helena
A mais bela de toda a Hélade.
E a história da Humanidade
Ficou decidida neste humano e pifio lance!
Homero, o primeiro aedo
Poeta revolto
Genial criatura
Narrativa inultrapassável
Em torno da qual gira
Dixit Borges: "toda a literatura!".
Albergaria
quarta-feira, março 15, 2006
Ainda um poemita
A amizade
Na vida, nos seus sobressaltos
Tropeças, a cada passo
No amor, nos seus solavancos
Tropeças, em cada curva
Na política, nos seus ziguezagues
Tropeças, a cada ciclo
Na fé, nas suas igrejas
Tropeças, em cada conversão
Na guerra, nas suas misérias
Tropeças, malgrado o teu não querer
Na amizade, nessa, esse amor fraterno,
Tropeças e t'alevantas - SEMPRE!
Albergaria