segunda-feira, maio 30, 2005

Cantiga, partindo-se

Senhora, partem tam tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém

Tam tristes, tam saudosos,
tam doentes da partida,
tam cansados, tam chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tam tristes os tristes,
tam fora d’esperar bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

João Roiz de Castelo-Branco

haikai

Depressa se vai a primavera
Choram os pássaros e há lágrimas
Nos olhos dos peixes


Silêncio:
as cigarras escutam
o canto das rochas


Admirável aquele
cuja vida é um contínuo
relâmpago


Matsuo Bashô

sexta-feira, maio 27, 2005

A ignorância é como o vento: ambos de tamanho atrevimeto!

Poemitas (de um irresponsável ignaro)

I

Cinzento o dia
de lazuli me vesti

Saboreaste-me a gosto
O carmin te seduziu

Olhaste-me em íris d'entontecer
o verde me derribou

Tiveste-me em leito d'açucenas
d'ouro me debruas-te

Acolhi-te sereno
em miríades de miosótis

Amanhã hei-de saber
as cores todas do arco-íris!


II

Do céu aos baldões, na neve tropeçava
Tremia!

Os flocos emaranhavam-se a meus pés
gemia!

A préclara derretia-se, encosta serrana abaixo
bebia!

Brancura alvar de espanto me vestia
rescindia!

Reverbéro dos deuses
água escondida!


José Albergaria

quinta-feira, maio 26, 2005

Ementa

Por mares nunca dantes navegados
Com letras e espaços consagrados
Por caminhos, sabe-se lá, enviezados
Conhecemos muito daquilo que nos torna interessados.

À volta de um cozido que não apareceu, por semelhanças com o Ambrósio que por causa do calor não pode servir a senhora, deixei-me levar pelas dúvidas sobre qual o caminho a trilhar na procura da melhor solução para a razão que aquela hora me levou a tão conhecido porto.
De abrigo, pois claro, que o outro está por demais assoreado com a areia que durante anos fez crescer a teia.
E se a resposta pode ser procurada numa lista dactilografada (mais uma vez a azul), é raro aquela capa encarnada(pois claro) ser aberta numa tentativa séria da solução aí ser encontrada.
E porque renegamos a única coisa, que naquela mesa, é uma verdade absoluta?
Se nela está escrito do que podemos comer, porque procuramos sempre na palavra uma alternativa melhor?
Ou será que naquela mesa, mais do que a evolução constante das dimensões dos pratos, o que está em causa são as dimensões dos factos? Para não falar das dimensões dos fatos!
Resumindo este texto de iniciação blogosférica: naquela mesa não se podem servir ideias já feitas. Qualquer que seja a proposta ela tem de ser bem dourada. E mesmo assim corre o risco de ser presenteada com uma frase por demais utilizada: nem tudo o que brilha é ouro.
E agora vou procurar consolo num colo gitano que me adormeça ao som de um belo cozido.
NT

quarta-feira, maio 25, 2005

COMO SE ESCOLHE UM CANDIDATO A PRESIDENTE DE CÂMARA

COMO SE ESCOLHE UM CANDIDATO A PRESIDENTE DE CÂMARA

A pretexto das eleições autárquicas do próximo Outubro de 2005, recorrentemente, aparecem (só as mais mediáticas) na Comunicação Social, noticias de exclusões de candidatos pelas lideranças partidárias, malgrado estes terem sido sufragados nas freguesias ou nas estruturas Concelhias e, às vezes até, nas próprias Direcções políticas Distritais.

Exemplos: Isaltino Morais em Oeiras pela liderança do PPD/PSD; Valentim Loureiro, idem; o Eng.º Barroso, em Borba, pela liderança de Jerónimo de Sousa do PCP, contra a vontade da estrutura Concelhia (coisa rara e creio que única na história do PCP). Estes os casos mais estripitosos e que mereceram alguma atenção de alguns órgãos de comunicação social.

Contudo, quantas mudanças ocorreram, por vontade dos aparelhos partidários e que deixaram um rasto de azedumes e um capital de queixa que deixam marcas profundas nos militantes das respectivas agremiações partidárias.

Pergunta-se o leitor quem tem razão?
O lider, ou a direcção nacional, porque tem uma visão estratégica global e tem de secundarizar o localismo das escolhas à sua visão mais ampla!
Os candidatos preteridos, excatamente pela razão oposta: porque são emergências locais e, por via disso, mais valias para se ganhar eleições, e Cãmaras Muncipais e mais poder!

E quando a mudança ocorre sem espalhafato, com cordialidade e sem aparentes fracturas e/ou animosidades?!...

Exemplos: Lisboa, com o Dr. Pedro Santana Lopes que fez depender a sua recandidatura à Câmara de Lisboa, duma conversa com o Dr. Marques Mendes, recem eleito Presidente do PPD/PSD. Nessa conversa foi-lhe transmitido pela liderança do partido que não contavam com ele como candidato à Câmara de Lisboa; Odivelas, com o Dr. Manuel Varges, substituido como candidato à Presidência da Câmara pela sua camarada e actual Presidente da Assembleia Municipal de Odivelas, Suzana Amador.

As legitimidades são óbvias e hierarquizadas. O leader tem uma maior legitimade que o Presidente da Distrital e, este, mais do que o leader Concelhio. Contudo creio que era importante criar-se um sistema de pesos e contrapesos que permitissem resultados incontornáveis e adequados neste processo de escolha.

Contudo, importa sublinhar a "humildade" do Dr. Santana Lopes que, durante a sua carreira política não tem abusada dela, neste passe significativo da sua vida: "só aceitaria recandidatar-se à Câmara de Lisboa, depois duma conversa com o Dr. Marques Mendes."

Os caminhos que levam à candidatura de um qualquer cidadão`a Presidência de uma Câmara Municipal são pedregosos e nem sempre limpos de escolhos e obstáculos.

Hoje deu-me para partilhar convosco estas minha parcas, modestas e pouco substantivas preocupações.

Aqui ficam.

José Albergaria

sábado, maio 21, 2005


Para o Albergaria.  Posted by Hello

[Bojudo fradalhão de larga venta]

Bojudo fradalhão de larga venta,
abismo imundo de tabaco esturro,
doutor na asneira, na ciência burro,
com barba hirsuta, que no peito assenta:

No púlpito um domingo se apresenta;
prega nas grades espantoso murro;
e acalmado do povo o grão sussurro
o dique das asneiras arrebenta.

Quatro putas mofavam de seus brados
não querendo que gritasse contra as modas
um pecador dos mais desaforados.

«Não (diz uma), tu padre não me engodas;
sempre me há-de lembrar por meus pecados
a noite, em que me deste nove fodas!»

Bocage
[Setúbal, 1765-1805]

O porquê de um nome

O Senhor Mapril é sócio do Bond. O Bond é um restaurante. No Bond reúne-se, às quartas-feiras, uma tertúlia de geometria variável. As conversas são como as cerejas. De entre muitos temas, porque não somos gente limitada a um só, falou-se de fazer um blog. Já está on-line. Não se conseguiu que se chamasse Bond. Chama-se Mapril. Aguardam-se participações.

Ecce Homo

Nasci por acidental acaso em perdido lugar da geografia, em hora e dia ocasional, num momento da história, milagre fortuito da genética, no coração da aleatória lotaria da vida, com sorte de corpo são, mergulhado em cultura não escolhida. Emergi negando destinos no mar determinista. Abri os olhos com a convicção da minha imaginação. Armdo de livre-arbítrio escolhi caminhos de vontade e liberdade incríveis no leque limitado das opções possíveis.

sexta-feira, maio 20, 2005

O Sr. Mapril

Começa aqui.