segunda-feira, janeiro 02, 2006

Je - est un autre

Esta possibilidade humana que temos de nos olhar de fora de nós mesmos, traduzida nesta imorredoura, quanto francesa, fórmula - remete-nos para aqueloutra - helena: "conhece-te a ti mesmo".

Tudo isto vem a propósito da prosa expendida em torno da mitologia avicola feita clube de futebol.

A palestra, a disputa, a réplica e, raras vezes, a tréplica podem ser exercícios de mui grande elevação: estilistica, de saber, de ironia, de humor e de elegância.

Nós, os cultores da águia bicéfala, cumpre-nos o exercicio da tolerância, que deve ser a primeira das qualidade - sobrepondo-se a todos os humanos defeitos figurando, por tal, como a primeira das qualidades.

O "desportivismo" é apanágio do gentleman que, tal como o enorme estadista ateniense Péricles - nunca parava sequer para responder a insulto, remoque ou chiste com que pretendessem atingi-lo.

O exercicio da conversa, mesmo enformada por disputa clubistica, não deve nunca, em meu modesto parecer, ultrapassar os limites a que a sã amizade maprilista nos obriga e consente.

Sendo responsável pelo pontapé de saída desta novela, dedilhada já a oito mãos - com a alegoria da águia e do éter, quero sublinhar tão sómente que na lenda da luta de S. Jorge (ou em versão recente: Jorge o vitorioso) contra o dragão ( nas duas versões que conheço) acontecem sempre coisas terríveis para os préclaros simbolos do FCP: morrem ambos.

Curiosamente, na Peninsula Ibérica o dragão é femea, daí o nome Coca. Na variante generalizada, S. Jorge, em defesa duma jovem princesa, mata o dragão, mas, contrariamente à outra lenda ( a de Santa Marta - em que esta domina o dragão e o passeia depois pela trela) não domina o Dragão, ou Coca, na nossa versão iberista e femeeira.

Contudo, em Monção, a tradição da luta de S. Jorge com o dragão, repetida ano após ano, intercala a morte do Dragão/Coca com a morte de S. Jorge: umas vezes morre este...e noutras aquela.

Entre uma e outra versão, como diria um amigo portista, venha o diabo e escolha (não confundir com os diabos vermelhos).

Como se deprenderá - este meu post não pretende mais que dar um modesto contributo para aclarar o uso da simbologia avicola aplicada à disputa futebolístico/clubística.

E por aqui me fico, com o desejo que 2006 seja o ano de todas as derrotas, a começar, obviamente, por aquela que interessa ao POVO de Esquerda: a de Cavaco Silva nas eleições Presidenciais em 22 de Janeiro.

Um enorme abraço,

José Albergaria

PS - As vezes, os anónimos não são quem pensamos ou desejamos que fossem...