segunda-feira, janeiro 02, 2006

Gil Vicente, o super dragão, o anónimo (que afinal roubou a prosa ao outro) e o eu (que não sou eu, mas um outro)

Curiosa a novela a respeito de águias, dragões e S.Jorge, que motivou um post de um anónimo, arvorado em discípulo de Gil Vicente e um comentário de um Eu (não tão atento como isso), mas suficientemente deselegante no modo como se dirige a um clube do Norte (suponho eu ao FCP).
Comecemos pelo anónimo, que afinal coloca na sua boca as palavras do outro. O trecho até nem está mal escrito e não deixa de ter alguma piada. Pena é que subverta o espírito vicentino, que se caracterizou pela amoralidade e a crítica às aparências. Se o texto do anónimo (que afinal não é dele, mas de outro alguém a quem o roubou), alguma característica revela não é o amoralismo vicentino, mas mais o moralismo beático e seráfico próprio de quem foi motivo de chiste e crítica de metre Gil. O anjo que acolhe o super-dragão está longe de parecer o guardião do paraíso descrito no Auto da Barca do Inferno, confundindo-se isso sim, com o frade gordinho e papudo, que acaba penando seus pecados. Depois, convenhamos ser-se tão moralista e acabar confessando o roubo de um texto, não parece coerente. A não ser que o anónimo pense que ladrão que ofende dragão tem 100 anos de perdão.
Quanto ao comentador, o seu post merece alguns reparos:
Primeiro, as relações entre dragões e águias não são exclusivas do tempo em que os animais falavam. Não só porque, ainda hoje, os animais continuam a falar e a escrever, como essas relações ainda há poucos anos existiam, só que não tendo por alvo S. Jorge, mas o leão, a fazer fé nas palavras proferidas então por Dias da Cunha.
Segundo, não deixa de ser curioso o modo depreciativo como o Eu se refere aos clubes de bairro, sobretudo, tendo em conta que é adepto de um clube, que, na sua génese, foi uma agremiação de freguesia (de Santa Maria de Belém), a qual, segundo o meu bom amigo Alves da Silva (ilustre cultor da história da Amadora), se inseria administrativamente, não em Lisboa, mas na rcunscrição amadorense. Quanto à dimensão nacional do Benfica seria bom recordar o discurso de Elmano Alves, líder da ANP, em Fevereiro de 1965, em reunião da comissão central deste organismo, em que afirmava "ser o Benfica uma das imagens de marca do Estado e da Nação Portuguesa".
Terceiro, numa coisa tem razão o atentamente eu: matemos de vez o animal. Náo necessariamente o dragão, o qual, de resto, não teria, segundo algumas versões da lenda, sido morto, mas ferido e levado como troféu, mas a águia. talvez assim possamos viver anos de prosperidade, como acreditavam as tribos sioux.
Sem ofensa e muito fraternalmente para voces meus caros Anónimo e Eu
do V. maprilista
Alcino Pedrosa

PS. Cá por mim a prosa esgota-se por aqui

BOM 2006