quarta-feira, dezembro 28, 2005

pedro castelhano 2

À procura da Luz

Aqui, nas costas brancas do silêncio, escrevo-te
em surdina não vá o silêncio acordar.

Aqui, entre trevas tristes e mágoas
de pássaro sem abrigo, mas de asa aberta
à luz, escrevo-te pela ínfima vez. Como
se esperasse o apodrecer da semente e
a ameaça serena da flor.

Aqui, neste espaço
sem medida, com a memória prisioneira,
escrevo-te, com todos os sentidos adormecidos.

Nas masmorras da Palavra, apesar de tudo,
há uma sílaba que brilha como se fora
pão e luz, como se fora véu e mãe.

Aqui, ignora Deus para te conheceres melhor.
Alerta a festa para haver um entardecer mais longo.

Aqui, donde te escrevo sem saber de onde,
pega na mão e filtra as carícias como
filamentos frágeis de tão eternos que
nos conduzem até à suprema arte
do silêncio. Afaga a mão como borboleta
antes da morte ou cisne anunciando
Mozart. A beleza é esse instante
roubado ao Tempo.

Aqui, sem espaço
nem memória, escrevo-te, como
se um foco de luz penetrasse na cegueira
e dispensássemos os deuses de saber quem somos.

Amadora, 27.12.05

1 Comments:

At 28 dezembro, 2005 16:57, Blogger Aqueduto Livre said...

Bem gostaria eu de "poemar" como este Pedro!...

Tal como aquele outro heleno que lançou a primeira pedra da aventura da "eclésia", que já perdura há mais de 2000 anos, este "à procura da luz" bem nos remete para aquela dimensão da espiritualidade que todos os homens bons, honrados e de bons costumes perseguem.

Os escritos deste Pedro Castelhano são, SEMPRE, um bâlsamo para a alma e um prazer na leitura.

Vem, caro I:., mais vezes e mais constância ao convivio dos "maprilistas".

A aceitar a metáfora de N.T. (dos pontas de lança...)este Pedro Castelhano estará, no minimo, próximo dum Quaresma.

Bem hajas por esta tua incessante, préclara e bela procura da luz.

J. Albergaria

 

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