quinta-feira, dezembro 29, 2005

Em defesa do bom nome

Resta-me o nome e até esse é de pobre.
É em sua defesa que saio à estacada,
a troco de coisa nenhuma, a troco de nada.
Que direito te assiste de gozar quem sofre?

Até a memória de Dulcineia beliscaste
escondido atrás de apócrifo relato.
Sim Dulcineia morreu, que apenas te baste
saber que de morte natural. O seu retrato

enche a carteira que ao peito trago,
que do resto está vazia como sempre.
Fizeste da vida constante estrago,
atazanando a vida a toda a gente.

Quero lá saber se foste toxicodependente,
se andaste a lutar contra moinhos de vento,
te embebedaste em bares de putas ao Intendente.
Digo-te, sem amargura e sem um lamento

que fiz da vida o que a vida fez de mim:
casei e tive filhos e casa para pagar,
hipotecada ao banco... foi mesmo assim.
imensas criaturas to podem confirmar.

Mercedes! Não fora difamação e eu riria,
agarrado à barriga que nunca me faltou,
perdia a compostura, pois não faltaria
motivo para o fazer, mas digo-te que estou

absolutamente idignado, com tanta aleivosia.
O que eu tenho, e que posso claramente provar
é um carrito em segunda-mão, sem garantia
a que faltam ainda vinte letras para pagar.

Que dizer das armas do Kosovo? Efabulação!
Sei que foste contra a Nato. Sempre utópico,
sempre pronto a acender inútil discussão
em torno de qualquer pretexto filosófico.

E essa calúnia inominável da operação plástica?
Direi em minha defesa,morra se minto,que se a fiz
foi porque caí dum eléctrico, não na ginástica,
foi para disfarçar do rosto horrenda cicatriz.

Deus gosta mais de mim do que de ti, dizes.
Pois afianço-te que tal, até agora, ninguém viu.
Quem suporia que, passados os dias felizes,
ias esquecer que sempre dizias: «Deus nunca existiu!»

Não me venhas recordar o tempo de La Mancha,
invejando do pobre escudeiro o burro lazarento.
Olha, esquece que me chamo Sancho Pança,
e que não comparo um cavalo a um jumento.


Sempre atento, venerando e obrigado

o vosso fiel escudeiro melindrado

Sanho Pança