castelhano
1. provérbio da minha mãe: A semente mais grada é a da língua.
Um nocturno do P
edro Castelhano
Vem, noite,
como se fosses o ventre que me pariu
e eu nunca tivesse lido Pessoa
Vem, noite,
que ignoro o nome das estrelas
e mal distingo a luz
qaundo o orvalho se acolhe nas árvores
Vem, noite,
como esquecimento
e em ti me esquecesse
do que sou
Vem, noite,
mesmo que depois
a clara manhã
seja de ignomínia
Vem, como se não tivesses
nem braços nem olhos
Vem, rosa negra
do meu silêncio
mãe dos cegos e de todos
os que já estão cansados de ver
Vem, noite,
mesmo no ruído
mesmo ferida pelo fogo
e pela efémera invenção da luz
Vem, noite,
com trevas a que a todos nos iguala
inebria, fascina
tortura e mata
Vem, noite,
do longe que não cabe na distância
mensageira da loucura dos deuses
Vem, noite,
e liberta-nos da euforia da luz
Mata-nos de vez
Algures em Trás-os-Montes, Agosto 2005
2 Comments:
Até gostei do poema, mas, que mal te pergunte, o ar do campo torna-te mórbido?
a.m.
"mórbido" - dizem também os dicionaristas "de uma pintura, de uma escultura delicada".
Apetece-me mais colher o teu poema pela delicadeza da rima, das cores e do sentimento, os três pilares (ao que dizem os entendidos) da arte da poesia.
Apetece-me também dizer-te (e aproveitando o comantário aqui do lado do a.m.)que tenho dois mestres da (ou na, como se quizer...)escrita:o António Moreira (a quem devo mais do que ele algum dia poderá imaginar!...)e ao hortónimo Rogério Rodrigues - a quem aprendi a gostar e a saborear no "prosear" do Grande Amadora e, depois, em A Capital e ainda naquele teu livro de poemas, dos teus 22 anos que, ao que nos dissestes - responsável pela tua já longa e consistente carreira jornalística.
Quero que continues a "prosear" ou a "poemar" aqui no MAPRIL ou noutro lugar...mas avisa-nos para poder ler-te -sempre- com renovado prazer e devoção.
Albergaria
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