quarta-feira, junho 08, 2005

Um enorme poeta (ainda pouco divulgado). J.Albergaria

Equinócio de outono
O verão estende a sua sombra até aos teus joelhos
em que a luz se dobra: a isto chamávamos o outouno
primavera
Altas e húmidas ervas são pequenos jactos
de luz que erguem o dia até àquela música
com que o olhar diz árvore por árvore
a manhã dos pássaros - trémulas folhas que
regressam às palavras de que ninguém volta.
A luz escreve ainda a última dança da derradeira terra.
outouno
A incompleta e suspensa arquitectura de um pássaro
contra o bloco maciço, a obscura pedra que imita o mar
despenha o céu que passa em nuvens diante do teu rosto
matéria amante, coisa amada inacabável
Manuel Gusmão (1994-2000)